domingo, 19 de setembro de 2010

Massacre

O paraíso destruído: o massacre na América indígena


As guerras, a escravidão, os maus-tratos, os assassinatos em massa, a catequização e a difusão de doenças como varíola e rubéola foram os principais 3 mecanismos utilizados no massacre dos indígenas. Calcula-se que tenham morrido 70 milhões de ameríndios em aproximadamente um século. Só no México, no mesmo período, foram mortos 24 milhões de pessoas, uma das maiores
hecatombes da história da humanidade.

Não à toa, portanto, os conquistadores espanhóis ficaram conhecidos pela ferocidade e crueldade com que assassinavam e subjugavam os índios. A partir dos poucos registros existentes, pode-se vislumbrar a dimensão da barbárie realizada. A respeito, veja-se, por todos, o seguinte relato de Las Casas:

Os espanhóis, com seus cavalos, suas espadas e lanças começaram a praticar crueldades estranhas; entravam nas vilas, burgos e aldeias, não poupando nem as crianças e os homens velhos, nem as mulheres grávidas e parturientes e lhes abriam o ventre e as faziam em pedaços como se estivessem golpeando cordeiros fechados em seu redil. Faziam apostas sobre quem, de um só golpe de espada, fenderia e abriria um homem pela metade, ou quem, mais habilmente e mais destramente, de um só golpe lhe cortaria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria as entranhas de um homem de um só golpe. Arrancavam os filhos dos seios da mãe e lhes esfregavam a cabeça contra os rochedos [...] Faziam certas forcas longas e baixas, de modo que os pés tocavam quase a terra, um para cada treze, em honra e reverência de Nosso Senhor e de seus doze Apóstolos (como diziam) e deitando-lhes fogo, queimavam vivos todos os que ali estavam presos. Outros, a quem quiseram deixar vivos, cortaram-lhes as duas mãos e assim os deixavam.

Essa brutal carnificina é decorrência direta de uma época na qual antigas justificativas religiosas da desigualdade entre os seres humanos conjugaram-se ao nascente desejo desenfreado de enriquecer dos europeus. Conforme aponta Tzevtan Todorov, os conquistadores espanhóis pertencem, historicamente, a um período de transição “entre uma Idade Média dominada pela religião e a época moderna, que coloca os bens materiais no topo de sua escala de valores”. A
conquista, na prática, foi marcada por esses dois aspectos: os cristãos vêm ao Novo Mundo imbuídos de religião e levam, em troca, metais preciosos e riquezas.